19 de fevereiro de 2011

Moinhos ao relento

Construí moinhos,
Moinhos grandes, bonitos e imponentes.
Ficavam em um campo,
Um grande campo coberto de flores coloridas e grama verde.
Moinhos que eram visitados,
Por casais felizes, que dançavam à luz do sol,
Que se beijavam à luz da lua.
Haviam também esquilos,
Esquilos que saltitavam e corriam livremente,
Entre as flores coloridas, entre casais felizes e entre moinhos imponentes.
Mas ela não queria só moinhos,
Nem só campos com flores, nem só casais felizes e nem só esquilos,
Ela me disse que queria voar.

Construí uma torre,
Uma imensa torre que chegava ao céu,
Torre que ia acima das nuvens, uma torre que a fazia voar.
E ela ficava no último andar,
Onde tocava com as mãos, as nuvens de algodão,
Onde ela via a alvorada
Onde ela via o crepúsculo
Onde ela ficava feliz, ao menos, assim eu achava.

Certo dia apareceu um cavaleiro,
A luz do sol refletia em sua armadura.
Seu cavalo era mais branco que as nuvens de algodão.
E ele cavalgava,
Passando por cima das flores, espantando casais e seus amores,
Amedrontando esquilos saltitantes,
Ela foi com ele.

Não havia mais flores, a grama já não era mais verde,
Os casais já não estavam mais lá, muito menos os pequenos esquilos,
Não havia mais alvoradas nem crepúsculos,
As nuvens estavam sempre cinzas,
E os moinhos não funcionavam mais.

Construí uma cova,
Nunca foram me visitar,
O cavaleiro foi chamado de herói,
E eu fui esquecido,
Eles, viveram felizes para sempre.


Café, veneno e desistencia II

Ele casara de esperar, e já esperara bastante , esperou dias de sol, esperou algo a mais, esperou que as coisas melhorassem, e não tinha ficado de braços cruzados, esperando que tudo se encaixasse milagrosamente. Foi atrás do que queria, tentou, ao menos, buscar seus objetivos, mas existem pessoas que nasceram para perder e essas pessoas se diferem em dois tipos, as que percebem que são fracassados ambulantes e os que não percebem e continuam tentando e tentado e tentando. Não que os fracassados que percebiam que iriam falhar em qualquer coisa que fizesse não tentassem, tentavam e como de costume, fracassavam e já sabiam que isso iria acontecer.
Um fracassado ambulante que sabia que iria falhar, é o que ele foi durante toda sua desgraçada vida, era orgulhoso também, um viciado em cafeina, fracassado, esquecido e orgulhoso, e ele estava cansado de ser assim . Já não aguentava mais levantar todos os dias, já desistira a um bom tempo dos seus sonhos e sentia-se miseravelmente só.
Toda essa situação lhe incomodava, sentia um aperto no peito sufocando-lhe todos os dias e ele realmente estava cansado.
Encarava, agora, um frasco de veneno, lembrou-se  dos seus dias, todos desgraçadamente fodidos, não sabia se já havia vivido seus dias de glória, mas isso não importava, não mais.
Tomara, o gosto era repugnante , um gosto que ele esperava nunca mais sentir, e finalmente, não fracassou, não precisaria mais sentir aquele gosto horrível, nunca mais. Não foram ao enterro dele.

5 de fevereiro de 2011

Café, veneno e desistencia I

Acordara transpirando e cansado em mais uma manhã quente de verão.
Arrastou-se, como um condenado dirigindo-se à forca, mas ele não iria morrer, não ainda, seguia apenas para a cozinha. Precisava tomar café, era um pobre diabo viciado em cafeína, e como todo viciado, necessitava da sua substância. Esperava pacientemente a água ferver sentando em um banco solitário, esquecido em um canto da cozinha perto da geladeira, percebendo que a água já começara a ferver, deu continuidade àquele processo rotineiro que fazia toda manhã para alimentar seu vício. O cheiro de café sendo preparado invadia-lhe as narinas, causando-lhe um prazer bestial.
Ligara o computador com esperança de que haveria algo novo, de que alguém lembraria dele naquele dia fútil e quente, estava com a mesma esperança idiota que as pessoas adquirem quando apostam na loteria, ele sabia disso, sabia também que nunca fora alguém marcante nos locais que frequentava, parecia até mesmo que era um coadjuvante em sua própria vida, mas tinha essa esperança, e logicamente se abalou-se  ainda mais quando notou que novamente não lembraram dele. Passou o dia assim, sentado em frente ao computador, em meio de músicas e jogos idiotas em flash, esperando que alguém percebesse que ele sempre esteve lá, parava apenas para engolir alguma coisa quando a fome lhe apertava. Sentia o nó na garganta apertando e começara a tremer involuntariamente cada vez mais ao passar das horas.

1 de fevereiro de 2011

Ônibus

Estava quente, eram cerca de 18h então o sol não incomodava tanto quanto a algumas horas. Mas continuava quente. Dentro do metrô estava insuportável.
Pegaram um ônibus, e apesar do horário, estava vazio. Sentaram-se ao fundo do ônibus, escutaram músicas, uma brisa entrava pela janela e fazia os cabelos dela esvoaçarem. Tinha sido um dia realmente bom.
Ele percebeu então que o ponto se aproximava cada vez mais, mas não ligou. Estava feliz, a música era boa, e ela desceria junto com ele.